Ele estava em um banco, com os cotovelos apoiados no balcão do bar. Ela abriu a porta, era pequena, mas sempre fez ele sentir coisas enormes.
— Trouxe?
(Ela colocou os dedos no ombro dele e pode sentir a corrente elétrica percorrer seu corpo)
— Trouxe.
(Ele indicou com os olhos o violão jogado no chão)
— Então eu vou indo!
— Não quer beber?
— Não afogo minhas magoas.
— Você não tem.
— Talvez enquanto tinha você, não mesmo.
— Ainda me tem.
— Você foi só mais um, mais um que transformou meu céu azul em cinza e nunca conseguiu se doar. Nunca tive você, só teus restos.
(Os dedos dele tocaram o rosto dela)
— Cinza também é importante.
— Mas eu já não sou mais!
— Você ainda é mais, mais que as outras, mais que tudo aqui.
— Eu vou embora.
— Não foge, me leva com você. Me leva daqui, de mim.
— Por que? Pra que?
— Porque eu ainda quero mais... Quero você!
— Eu vou embora.
(Ela pegou o violão e passou a alça em um ombro)
— De novo?
— Vou
(Ela caminhou na direção da porta.)
— Ei, não conta pra ninguém, mas eu senti saudades.
(Ela sorriu enquanto o vento batia em seu rosto)
— E eu ainda sinto, te sinto.
(Ele não podia mais ouvir)