segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

o ultimo som, é o melhor som.


Eu tive que viver te implorando para dividir tuas coisas comigo, teus sonhos, teus medos, tuas dores, enquanto tudo que eu era, tudo que eu tinha, vivia exposto aos teus olhos, era tudo nu para que você pudesse me conhecer, pudesse me querer pelo que eu era, pelas coisas que eu mantinha. E nós nunca chegamos a conversar sobre como eu me sentia, mas todos os dias eu perguntava tudo sobre você, ficava tentando te fazer abrir tua vida, me dar um espacinho, me acolher. Hoje é nítido para mim, não adianta só doar, eu também sempre quis colher, por isso te pressionei tanto, te apertei tanto, simplesmente porque eu te dei tanto, que só me restou querer, mas estava em suas mãos, nem tudo que eu queria eu poderia ter e eu nunca tive você, por completo, em aberto, nunca tive você, talvez porque eu errei, talvez porque não devia ter me dado tanto, ou apenas porque o que tu guardava ai dentro era tão assustador, que eu nunca conseguisse compreender.

entre as estações.


“Amanhã, teremos chuva durante todo o dia na capital…”

Flip.

“If I could just see you… Everything wold be all right…”

Flip.

“Hoje no Momento Paixão Nativa, a história de amor a distância…”

Flip

“Ainda acho que Eduardo e Monica, foi a melhor retratação do amor…”

Flip.

Desisti de zapear pelas estações do rádio, assim como alguns minutos antes havia desistido de ver TV… O dia chuvoso que estava por vir, a nossa musica, a história de amor a distância que provavelmente deu certo, o teu nome. Tudo no mundo, tudo aqui ao meu redor, tem um pouquinho de você, só eu que não, só comigo que não sobrou nada do que você foi, você fez questão de levar tudo embora. Embora.

Nos últimos dias eu dormi no sofá, pois a cama tinha muito do teu cheiro e eu nem sei trocar lençol, mas hoje pela manhã eu acordei na nossa cama, depois de doses de vodka (eu sei que vodka não ajuda exatamente a esquecer, eu sei) e fitei o teto, finalmente, depois de anos, eu poderia levantar sem peso na consciência, poderia saltar da cama, escovar os dentes e ir pro trabalho com a minha camisa amassada, não precisava mais ficar enrolando na cama com medo de me mexer e acordar você que dormia no meu peito, não precisava mais ficar com dó de te tirar do seu sono profundo, mas mesmo assim eu cheguei atrasado mais uma vez no trabalho, cheguei atrasado porque preferi te relembrar um pouquinho. Ou muito.

Sabe, ontem quando eu cheguei no escritório e tua foto estava em cima da mesa, o teu sorriso me doeu e eu olhei ele por 23 segundos, depois guardei o porta-retrato na gaveta e suspirei ao me dar conta que eram exatas 122 horas sem sorrir. As pessoas do metrô me olhavam de modo estranho, eu cheguei a imaginar que elas podiam ver o quão triste eu estava por dentro, mas só quando cheguei em casa percebi que havia passado o dia todo com a camisa do aveso e sorri, quebrei o ciclo e logo em seguida te escrevi um poema. Rimei teu nome com unica.

A coisa de escrever poema virou rotina, sentir saudade virou normal… Eu senti tua falta e li teu nome no jornal durante longos dias, eu até cheguei a chorar, eu fui covarde, fugi das evidencias e quis negar que a vida te esfregava na minha cara, mas não pude negar que os meus atrasos, as minhas loucuras, as camisas ao avesso, os poemas, as contagens de quantas horas fiquei sem sorrir… Tudo isso era você, não consegui fugir do fato de que eu sinto saudade e mesmo com a minha vida se tornando cada vez mais suja sem você, eu não consigo pegar a droga do telefone e te ligar, sabe por que? Porque um dia você me disse que é muita burrice correr atrás e eu lutei tanto pra te provar que não sou burro, por que agora? Não sei, só sei que eu queria que fosse agora, agora que o telefone tocasse e você dissesse que é burra, que é tola, que é… Minha. Talvez minha só agora, por 4 minutos, mas minha.